24/09/2008

KMFDM, a banda de rock preferida dos assassinos



Grupo de rock alemão está no cardápio musical de assassinos de Columbine e dos dois massacres na Finlândia

Jotabê Medeiros, do Estado de S. Paulo e Reuters

O rock mata? A banda de rock que mais vezes teve de responder a essa afirmação é o grupo alemão KMFDM. Alguns dos piores massacres recentes em escolas, nas quais 30 pessoas perderam as vidas, tiveram como protagonistas jovens que gostavam de escutar o rock industrial do KMFDM.

Nesta segunda-feira, aconteceu de novo: o finlandês Matti Juhani Saari, de 22 anos, que invadiu a Kauhajoki School, em Ostrobothnia (na Finlândia oriental), portando uma pistola semi-automática, e matou 10 pessoas, era do fã-clube da banda. Ele morreu algumas horas depois em um hospital de Tampere. Seu perfil no IRC-Galleria (maior site de relacionamentos pessoais da Finlândia) mencionava a banda KMFDM como uma de suas favoritas.

Saari havia começado a planejar o ataque em 2002. Ele também teria mantido contato com o jovem responsável por um massacre semelhante em outra escola da Finlândia no ano passado. As conclusões foram divulgadas nesta quarta, 24, pela polícia finlandesa, juntamente com a identidade das vítimas de Saari: um professor e nove estudantes - oito mulheres e um homem.

"Encontramos um bilhete em sua casa onde se lia: ‘Sempre quis matar o maior número de pessoas possível’", disse Jari Neulaniemi, chefe da Comissão de Investigação Nacional. O policial afirmou ainda que há fortes indícios de que Saari trocou informações, provavelmente por e-mail, com Pekka-Eric Auvinen, de 18 anos, que em novembro, na mesma Finlândia, abriu fogo em uma escola e matou 8 pessoas.


Mesmo gosto musical

O gosto musical do matador de Kauhajoki é estranhamente coincidente com o de outros assassinos que comungavam das mesmas idéias insanas. A polícia foi checar na casa do garoto pirado Pekka-Eric Auvinen que deu um tiro na cabeça depois de invadir a Jokela High School, em Tuusula (norte de Helsinki) e matar as 8 pessoas e viu que ele tinha preparado um vídeo de si mesmo apontando uma pistola para a câmera. Bingo: a música de fundo era Stray Bullet, do grupo KMFDM. O assassino chamava a si mesmo de "darwinista social".

Mas não é só. O caso mais famoso entre crime desse tipo (que virou filme pelas lentes de Michael Moore), o que aconteceu na Columbine High School, no Colorado, Estados Unidos, em 1999, também caiu na cabeça dos roqueiros. O matador Eric Harris tinha em seu site várias letras do grupo KMFDM (Anarchy, Power, Son of a Gun, Stray Bullet e Waste). Descobriram depois alguns outros links - o dia do massacre coincidiu com o lançamento do álbum Adios, do KMFDM, e era também o dia do aniversário de Hitler. No atentado, 12 pessoas morreram e 23 ficaram feridas.

O líder do grupo, o guitarrista Sascha Konietzko, mais conhecido como Käpt’n K (ou Capitain K), que criou o KMFDM em Hamburgo, há 24 anos, foi um dos pioneiros em juntar o techno e a música eletrônica ao heavy metal, mas seu som não é tão incomum - há várias bandas do gênero, como Ministry, Incubus, Rammstein, Marilyn Manson e outras. Ainda assim, Konietzko teve de soltar um comunicado no dia seguinte a Columbine, tal a algazarra.

"Primeiramente, o KMFDM gostaria de expressar sua profunda e solidariedade pelos pais, famílias e amigos das crianças mortas e feridas em Littleton. Estamos enojados e abalados, como o resto da nação, com o que aconteceu no Colorado ontem. O KMFDM é uma forma de arte, não um partido político. Desde o começo, nossa música tem sido um manifesto contra a guerra, a opressão, o fascismo e a violência contra outros. Embora membros do grupo sejam alemães, como reportado pela imprensa, nenhum de nós professa qualquer crença no nazismo".

KMFDM significa, em alemão, "Kein Mehrheit Fur Die Mitleid" (em tradução livre, "sem misericórdia para as massas"). A banda, que tem Lucia Cifarelli nos vocais, não está em turnê atualmente. No ano passado, lançou o seu 15.º disco de estúdio, Tohuvabohu, palavra que deriva do hebreu e significa "sem forma e vazio".

Um comentário:

Unknown disse...

A sociedade é deturpada e deturpa, não a música. Música é forma de expressão, não de coação. Estranho seria se a música em comum fosse do Abba.
A identificação desses assassinos com um mesmo tipo de banda é conseqüência de um comportamento agressivo, não causa.
Para terminar, a tradução do nome da banda seria "Sem maioria para a misericórdia" e não "Sem misericórdia para a maioria", o que altera substancialmente o sentido da expressão.