13/08/2009

Sinais de hipocrisia


Por Thomas Humpert

Talvez o paper de maior repercussão na teoria e prática econômica moderna, “What Washington Means by Policy Reform” de John Williamson (1990) foi interpretado como panacéia para os problemas da América Latina. Base para as idéias do Consenso de Washington*, o artigo elencou 10 reformas necessárias para superar a estagnação por que passavam os países latinos àquela época. Em meio a mudanças que hoje são (ou deveriam ser) consensuais, como privatização de empresas estatais e disciplina fiscal, Williamson propôs – e as economias latino-americanas instituíram – a liberalização das importações.

O embasamento teórico subjacente à idéia de adoção do livre-comércio data do século XIX, com a publicação da teoria da vantagem comparativa de David Ricardo. O conceito é simples: os países devem se especializar na produção de bens e produtos em que têm uma vantagem comparativa sobre as outras economias. Ao liberar o comércio, as economias se beneficiariam tanto ao importar bens mais baratos, como ao exportar a um mercado consumidor maior.

Os Estados Unidos sempre foram tidos como maiores defensores da política do livre-comércio. Pelo menos até o estouro da crise. Para proteger a indústria nacional, o governo Obama aprovou uma cláusula que determina que todo o aço e ferro utilizados em projetos de infra-estrutura financiados pelo pacote de estímulo fiscal sejam americanos. A medida nacionalista ‘buy American’ mostrou claramente a hipocrisia por trás da defesa do liberalismo comercial.

Ao reavivar o protecionismo econômico, os EUA se contradizem. Para superar a crise de 1994, o governo americano, por meio do FMI, obrigou os países latinos a liberalizar o comércio e abrir seus mercados à competição internacional. Já os Estados Unidos, em cenário parecido, optaram por fechar seu comércio e proteger sua indústria, muito mais desenvolvida e apta a enfrentar a competição global do que a latino-americana de meados da década de 90.

Economistas não ortodoxos vem há tempos mostrando a contradição entre o discurso norte-americano pró liberalismo e a adoção de barreiras comerciais e subsídios agrícolas pelos Estados Unidos. Essa divergência, entretanto, nunca se mostrou tão clara quanto agora. Talvez seja esse o sinal para mudar a condução da política econômica brasileira para um protecionismo dinâmico, visando o desenvolvimento da indústria nacional. Melhor, porém, esperar até 2010 para garantir que não retornemos ao anacrônico modelo de Substituição de Importações.

*conjunto de políticas que norteia a economia dos países latino-americanos desde a década de 90.

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