30/07/2008

"Não sabemos quem são os heróis e quem são os bandidos"


Por Rafael Almeida

A dicotomia existente entre o bem e o mal, que presenciamos nestes ditos filmes de “heróis”, vai se tornando cada vez menos clara e mais perturbadora à medida em que filmes como Batman – O Cavaleiro das Trevas nos mostra o quão interligados o bem e o mal se encontram. Eles se fundem em um preceito único: o humano, que não é nem bom nem mal, é simplesmente humano.

É um filme imperdível? Sim.

E os motivos que nos levam à conclusão acima vão se tornando cada vez mais evidentes. Esse filme que, diga-se de passagem já se tornou um marco, no mostra a batalha entre o cavaleiro das trevas, o eterno homem-morcego, o protetor da cidade fictícia de Gothan City, com o insano, psicótico e não menos eterno Coringa.

O roteiro do longa é simples, mas, ao mesmo tempo, se torna complexo pela forma empregada pelo incrível Christopher Nolan, diretor do anterior Batman Begins e Amnésia.

Em síntese, podemos dizer que Gothan ficou infestada de criminosos sem escrúpulos, membros da máfia, cujo único interesse único é o dinheiro. Contra eles estão a prefeitura, a polícia e a promotoria de Gothan, que por meio de seu incrível defensor, Harvey Dent, luta incessantemente na luta para remover a escória que permeia a cidade. Contra a máfia está o morcego mascarado. Contra eles também está o Coringa.

E vale dizer que nem o fã mais ardoroso de Batman poderia imaginar o que poderia surgir com a entrega do papel do palhaço e suas facas para o ator Heath Leadger, que já havia mostrado seu talento em filmes como A última ceia e O segredo de brokeback mountain.
Heath simplesmente eternizou sua atuação, e se eternizou com sua morte precoce no começo do ano. A atuação genial que pode lhe valer o Oscar se valeu de seu esforço visceral para fazer desse Coringa o mais misterioso, sanguinário, psicótico, habilidoso, apavorante e o mais engraçado já interpretado.
“Why so serious?” pergunta o Coringa a um dos membros da máfia antes de nele abrir um sorriso que selou sua vida. “Let’s put a smile on your face” é o que ele faz a cada vez que aparece com seu jeito sádico, com um passado mórbido que reluz em seu presente contínuo e cujo objetivo é apenas o de “fazer” as coisas, e não de buscar nada. Ele é o meio para a finalidade que ele próprio desconhece.


E que todos nós desconhecemos.

Neste mundo insano, no qual as semelhanças com Gothan se tornam inevitáveis, não sabemos mais qual é nossa finalidade na vida. Não sabemos mais quem são heróis ou quem são os bandidos, ou quem são os bons e quem são os maus. Na verdade, tanto Batman como o Coringa chegam à conclusão de que ambos são produtos da sociedade, de sua necessidade, um produto destes tempos que nos fazem ser diversas pessoas ao mesmo tempo, sem que sobre tempo para a criação de uma personalidade imutável.

No fim, talvez seja válido dizer que as pessoas de hoje em dia podem ser tanto batman’s, coringas e duas-caras (em referência ao outro vilão do filme), pois elas são aquilo que precisam ser, assim como nossos heróis.
A bem saber, poderíamos até mesmo dizer que este nosso Coringa, o personagem do ano, se assemelha com outro sujeito que entendemos menos ainda: Osama Bin Laden.
Se ele realmente for uma realidade, e não um produto americano de forma a se disseminar seus objetivos nacionalistas e imperialistas, podemos dizer que tanto o Coringa como Osama agem pelo impulso que têm de causar, pura e simplesmente, o caos.

Seguindo esse raciocínio, quem seria Batman nos dias de hoje? Quem seria o dono de um império que tenta fazer a justiça com as próprias mãos? Que invade sem explicações?
Será que o herói que Nolan criou é justamente aquele ser que muitos de nós abominamos (leia-se Bush)?

E pra finalizar, se falamos em Osama, onde o seu quase homônimo Obama entraria nessa? Talvez em Harvey? O Harvey Duas-Caras? Sim, talvez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não vi o filme. Não gosto de filmes de "herói" porque a dicotomia entre bem e mal me incomoda. É bom saber que o Batman não cai nessa armadilha. =)