As grandes “marcas” da comunicação
Por Thomas Humpert
Foi publicado há duas semanas um texto sobre a Veja, a revista mais vendida do país. Aliás, há pouco mais de um mês publicou-se outra nota sobre essa mesma revista. Falar da Veja é sempre polêmico, mas uma coisa é certa: todos a lêem. A prova disso? As duas reportagens deste blog. Paira, porém, a dúvida. Se a revista é mesmo o monstro que falam que é, por qual razão seus próprios detratores a lêem? Simples, é a melhor que temos. Veja não é nenhum exemplo de jornalismo. Não é nenhuma The Economist, nenhum Financial Times, mas tampouco se propõe a isso. É, sim, uma revista semanal. Seus repórteres não são rebuscados nem se utilizam de um linguajar parnasiano para impressionar, mas cumprem seu papel. Comparada a suas concorrentes, seu papel da Veja é de destaque.
Parece difícil entender a razão pela qual a revista é tão difamada. Noções básicas de psicologia nos mostram o porquê: ela é a maior. Ninguém se preocupa com o que a Istoé publica, ou mesmo a Carta Capital, seu tamanho não impressiona. Tomamos o exemplo da TV Globo, uma emissora igualmente poderosa e difamada. Igualmente odiada e unânime. Que jogue a primeira pedra quem assista ao Jornal da Record ao invés do Jornal Nacional.
Tudo isso é natural. A psicologia mais uma vez nos explica: temos pavor do poder e de tudo que é poderoso, inclusivo grupos midiáticos e empresariais. E é por isso que atacamos os maiores: é auto-defesa, ou auto-piedade, por nossa fraqueza frente a eles.
Estatística no Ensino Médio
O que mais impressiona, porém, é a fragilidade dos argumentos que são utilizados pelos detratores da revista. A crítica metonímica a uma revista pela figura de um jornalista é risível. Mais: a crítica a um jornalista pela figura de uma reportagem é insustentável, ainda mais quando recortada em fragmentos, como foi feito no comentário do dia 4 de julho. O recurso utilizado é extremamente poderoso para deturpar argumentações e comentários.
Só para explicar a reportagem que parece não ter sido compreendida pelo autor do comentário: o fato de o autor odiar estatística não quebra o argumento de que ache imprescindível que a matéria seja ministrada na escola. Adolescentes não gostam de nenhuma matéria. O que importa é o aprendizado, não o prazer de aprender. Se fosse pelo prazer, que ministrassem sociologia, que é muito mais interessante. Os trechos não se contradizem de forma alguma, se explicam. O jornalista tem legitimidade para dissertar e opinar sobre o que acha certo ou errado o que, torna legítima a existência da revista.
A prova de tudo disso se encontra numa reportagem de um grande leitor de Veja, assim como todos nós – o site esquerdista vermelho.org. A matéria (http://www.vermelho.org.br/emergencia/maio/1805_clarin.asp) foi baseada na reportagem da Veja (http://veja.abril.com.br/210508/p_082.shtml).
Um paralelo Brasil X Argentina
Por fim, volto-me para a ilustração do comentário que imediatamente me remeta ao cartaz acima. “Veja Mente” = “Clarin Miente”. Este panfleto é distribuído e colado por toda Buenos Aires para incentivar os leitores do jornal argentino de maior circulação nacional a não o comprarem mais. Lembram-se do comentário sobre as grandes corporações? Essa manifestação, porém, tem um cunho muito mais político que a nossa. A crítica está centrada nas idéias econômicas do jornal. O periódico é um dos únicos do país a assumir que a inflação três vezes maior que a publicada oficialmente pelo governo.
Uma pequena pesquisa mostra, entretanto, que o grupo de revoltados é liderado por Máximo Kirchner, filho mais velho do casal presidencial. Nestor e Cristina consideram o jornal uma ofensa e, portanto, o atacam por meio das ações de seu filho.
Já as críticas à revista Veja não vem da família do presidente, mas tem argumentos tão frágeis quanto a crítica ao periódico argentino. Me pergunto se os mensaleiros, se os responsáveis pelo dossiê anti-tucano e por outros escândalos consideram suas matérias inócuas. Pelo contrário. Suas reportagens são as únicas (junto com as da Globo) que têm alguma repercussão.
A julgar somente pela quantidade de escândalos políticos que a revista deflagrou deveria ser argumento para elevá-la ao posto de patrimônio nacional. Somente pela quantidade de leitores, Veja deveria ser alçada ao posto de patrimônio cultural. Por fim, a revista deveria ser obrigatória para qualquer pessoa inteligente ou minimamente interessante.
19/07/2008
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4 comentários:
Não concordo com diversas constatações que você fez. A começar, é claro, pela história de patrimônio nacional. Mas acho importante ter o debate de idéias. Essa é uma discussão infinita. Temos os que defendem a Veja, temos os que a condenam.
Eu a condeno. E tenho bons argumentos para isso.
Dando prosseguimento ao debate...
Nas poucas vezes em que falava de Daniel Dantas, as matéria de Veja eram sempre negativas, atacando os negócios obscuros do banqueiro. Até que, no auge daquela loucura das denúncias do mensalão, Dantas entregou um dossiê à revista (ao repórter Márcio Aith, mais especificamente) que dizia que altos membros do governo, incluindo o próprio presidente Lula, tinham contas na Ilha Cayman. Como se sabe, isso é proibido pela Constituição.
Como, nesse caso, a história ia de encontro com a proposta da revista (de derrubar um governo), a revista deu capa e amplo espaço.
Não durou uma semana e a acusação caiu por terra (aliás, dentre todas as coisas que se falou naqueles anos, essa ninguém lembra).
Dantas então contactou o prinicipal colunista da revista, Diogo Mainardi e disse que concederia uma entrevista a ele.
A entrevista de Mainardi com Dantas foi publicada na edição de 18 de maio de 2005. A partir dali o jogo mudou, e a Veja passou a funcionar como porta-voz do banqueiro que antes criticava.
Essa entrevista alías é de um primarismo incrível: não respeita a diagramação da revista (é possivel checar no site da revista a matéria) e as perguntas parecem formuladas pelos advogados de Daniel Dantas.
Aliás, no relatorio da PF, são três os jornalistas acusados de pertencerem à "organização criminosa" liderada por Daniel Dantas. Dois são da Veja: Mainardi e Lauro Jardim.
Thomas,
Rebato primeiro sua crítica ao meu argumento, e depois comento o que de novo foi trazido ao debate.
Assim você disse: “o fato de o autor odiar estatística não quebra o argumento de que ache imprescindível que a matéria seja ministrada na escola”. Não, o autor não odeia estatística. Ele odiou quando jovem. E reconheceu ser errado o ensino dessa disciplina para alguém de 18 anos. A contradição encontra-se no fato de ele ter reconhecido isso, e recomendar a sua inclusão no currículo brasileiro.
Agora rebato, ponto a ponto, seus argumentos:
1. Tudo o que você falou sobre psicologia do poder, autodefesa contra quem detém um enorme poder, pode ser inteiramente verdadeiro e se encaixar perfeitamente ao caso. Pode, não quer dizer que é. Contudo a critica não é superficial, muito menos proveniente de gente mimada que não aceita diferenças. O que está sendo rebatido são fatos concretos, e aquilo que é consenso para a maior parte da elite pensante de nosso país. Esse seu argumento é uma tentativa de minar críticas à Revista. Entretanto, abre novos flancos para a frágil posição do semanário. Montesquieu, estudioso da ciência política, idealizador da tripartição dos poderes e precursor da teoria do check and balances, bem disse que só o poder freia o poder. E ao leitor, e ao povo como um todo, por deter o poder soberano, cabe fiscalizar o poder, não aquele a que se referiu o pensador supra mencionado, mas o dito quarto poder, que exerce sua influência perante a opinião pública. E como muitos dizem, talvez tenha até mais poder de fato do que o próprio Estado.
2. “Melhor revista”? Temos tantas outras de qualidade duvidosa, mas intitular esse semanário de “melhor” é um tanto quanto forçado. O fato de venderem mais não quer dizer que são os melhores. Muito pelo contrário, a lembrar que quem compra é a classe média brasileira. Sua história é de glória, disso ninguém discorda. Contudo o presente trai aquilo que foi conquistado.
3. Você criticou a forma pela qual argumentei contra o jornalista e a revista, disse que usei uma crítica “metonímica”. Para quem não sabe, a metonímia é usada quando se tomar a parte pelo todo. De fato usei, e esse é um recurso discursivo legítimo, capaz de servir como base para qualquer argumento, desde que, é claro, fundado em fatos, e aliado a outros argumentos, como a péssima reputação da revista.
4. A crítica a um jornalista da revista é plenamente sustentável, posto que ele é responsável por aquilo que escreve.
5. “Adolescentes não gostam de nenhuma matéria”? Esse argumento não tem fundamento algum. Você foi generalista e reducionista. Nem é preciso dissertar a respeito para concluir que isso que você falou não ajuda em nada para sua tese.
6. E por fim, comento o seu último texto, que fala do Clarin:
As críticas à Veja são muito mais sérias e contundentes do que àquelas feitas ao Clarin. Você falou que a aquela deflagra escândalos políticos. De fato, ninguém nega a habilidade da revista para investigar. Agora os meios, e os próprios fins são os alvos das críticas. Publicam somente escândalos que lhes interessam. Já omitiram diversas vezes aquilo que era de interesse público, quando não mentiram, erraram, e sequer voltaram atrás, mantendo-se em sua arrogância. Pra não dizer que faço o mesmo que a revista: já ouviu falar do caso de Ibsen Pinheiro? Se não lembre, acesse o link. http://www.zaz.com.br/istoe/1819/brasil/1819_decidi_nao_morrer_01.htm
Voltando à questão dos escândalos. Lembre-se que um meio de comunicação deve sim ter posicionamento, contudo deve antes de tudo prezar pela veracidade dos fatos, e esta não é uma de suas qualidades. E nem sou só eu quem falo, muito menos grupos “vermelhos”. Essa fase já passou, não há mais a bipolaridade dos tempos de guerra fria. Esqueça isso. Tem muito jornalista renomado, de direita inclusive, que faz críticas veladas à revista. Um ótimo exemplo de meio de comunicação decente é o Estadão. E é de direita.
Enfim, as críticas à Veja não são ideológicas. Não que devamos ser pragmáticos ao extremo e nos esquecermos das ideologias, mas a questão é outra. Critica-se o jornalismo. Aliás, jornalismo é eufemismo para a Veja. O que a famigerada revista pratica é tudo menos jornalismo, é publicidade, propaganda, marketing, enganação, mentira... Tudo, menos jornalismo.
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